Caminha pelo parapeito do prédio. Ele anseia cair, mas não pula. Cerra na face o sorriso em pleno êxtase. Prossegue sem medo entre a morte inquestionável e a realidade que o antecede. Este é o momento – ele pressente. Inabalável olha para baixo, o lado externo ao prédio. Sacode os braços ao lançar o corpo inebriado de si mesmo. Apenas um corpo esquecido, agora chama a atenção entre os burburinhos e as falsas lamentações de estranhos.
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Tal qual a angústia da era moderna entre os dois lados que nos atrai fica a sensação da liberdade de quem segue a passos diante dos perigos da vida para o espaço e tempo desconhecidos. É o risco que há em se viver. Já disseram uma vez que 'viver é perigoso'. Eis uma verdade inquestionável. Temer porém é ainda mais arriscado, pois que se o medo da morte o impede de conquistar o mundo que o cerca não haverá mais vida.
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Em todo caso 'viver não é preciso', lutar sim. A peleja digna de deuses é, senão a conquista sincera do merecido fim, o outro lado da moeda, que gira e gira quase uniforme como o mundo em que se sustenta. É no balanço do metal ou do corpo insipiente que o destino se deleita e se apraz. E nesse vai e vem contínuo traça o seu perfil, a sua identidade. Afinal, continua quem quer, pois que não tema a morte e muito menos a vida. Responda sem medo por seu passo no chão profundo.