Saudações!

Sem a pretensão de ser mais um espaço conclusivo, mas de permuta clandestina de sensações e reflexos da mística desse mundo, espero que este lugar crie e seja criado como algo que nada baste, mas que conclame a imperfeição de seres na busca do elo singelo das relações.

Para quem desconhece o termo famigerado, provém do latim famigerátus e quer dizer aquele que divulga notícias ou que é afamado. No entanto, é nas palavras de Guimarães Rosa que me sirvo para incorporar algo de dúbio em um de seus contos mais "afamados".

Um abraço a todos e sejam bem vindos!


1 de agosto de 2007

Do verbo ao coito

Nada mais nobre do que conclamar o amor, ainda que carnal pelo verbo. E, Drummond ao expressar da sua forma, transforma elementos típicos de vulgaridade na sutil arte de amantes corpos, em complemento.


Amor, pois que é palavra essencial

Carlos Drummond de Andrade

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Amor – pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.
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Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?
.
O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.
.
Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?
.
Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.
.
Vai a penetração rompendo nuvens
e devassando sóis tão fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue.
.
E prossegue e se espraia de tal sorte
que, além de nós, além da própria vida,
como ativa abstração que se faz carne,
a idéia de gozar está gozando.
.
E num sofrer de gozo entre palavras,
menos que isto, sons, arquejos, ais,
um só espasmo em nós atinge o climax:
é quando o amor morre de amor, divino.
.
Quantas vezes morremos um no outro,
no úmido subterrâneo da vagina,
nessa morte mais suave do que o sono:
a pausa dos sentidos, satisfeita.
.
Então a paz se instaura. A paz dos deuses,
estendidos na cama, qual estátuas
vestidas de suor, agradecendo
o que a um deus acrescenta o amor terrestre.

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